Música armorial, antiga e expressões artísticas correlatas.

domingo, 24 de outubro de 2010

CARLOS MAGNO EM CANTORIA

Dos exímios cantadores cearenses Geraldo Amâncio e Zé Fernandes, "Carlos Magno em Cantoria", um disco composto de 5 faixas, cada uma composta de modalidade diferente de cantoria, todas tratando do mito do herói cavaleiresco medieval, Carlos Magno, sob a óptica dos poetas.

Segue o texto do encarte, da Prof. Dra. da UECE, Elba Braga Ramalho:

"Carlos Magno em Cantoria é o que apresentam os repentistas do Ceará, em forma de CD, nesta pequena mostra da riqueza poética de um dos gêneros mais importantes do cancioneiro de tradiçao oral brasileira. A cantoria circunscreve-se, principalmente, ao sertão do Nordeste do país. Nas contínuas migrações dos nordestinos que fogem das secas periódicas (longos períodos de estiagem), foram abertos novos espaços para a representação desta arte em outros pontos do Brasil. Por isso, ela também pertence de fato a cultura urbana, embora, em todos os seus elementos constitutivos, seja parte da cultura rural. Ainda no século XIX, a cantoria abrigava o repente e os poemas épicos. Estes complementavam lutas poéticas-musicais dos repentistas, os quais acumulavam ambas as atividades. A cantoria estabeleceu a elaboração formal da poesia épica nordestina. No início do século XX, deu-se uma ascensão da poesia épica, decorrente de sua divulgação impressa em folhetos e do interesse que o improviso despertou nos intelectuais da época. Esse fato provocou um grande desenvolvimento da poesia popular épica, resultando disso uma primeira divisão de trabalho que mais favoreceu aos poetas do que aos cantadores. No entanto, a cantoria continuou a ser divulgada pelos próprios cantadores, e tem demonstrado sua vitaiidade através da revalorização de formas tradicionais e da incorporação de novas formas. A cantoria, propriamente, é gênero artístico que tem no desafio luta poético-musical improvisada entre dois cantadores um de seus modos de representação. Na dimensão poética, ela integra uma variedade de gêneros ou modalidades que compreendem a organização das estrofes, principalmente, em versos de cinco, sete, dez e onze sílabas poéticas, com rimas e ritmo poético variáveis. Dentre as distintas estruturas estróficas, destacam-se as sextilhas, o gênero mais popular, cujas estrofes contém versos de sete sílabas monorrimas e as décimas, que comportam versos de sete ou dez sílabas, com maior destaque para diferentes gêneros decassilábicos, a exemplo do martelo e de outros mais. Alguns dos gêneros poéticos contêm refrão, motes, ou ainda estão presos a normas mais estritas como no galope soletrado. As sextilhas e as décimas permitem ao cantador demonstrar sua virtuosidade no ato de improvisar. No âmbito musical, cada gênero ou modalidade de repente comporta uma toada que consta de uma linha melódica, geralmente no âmbito escalar de uma oitava, submetida à rítmica do verso. Não é rígida quanto à determinação dos intervalos musicais, permitindo aos cantadores derivações dentro do próprio contorno melódico. Sua reprodução nunca é idêntica entre os próprios parceiros, mesmo em se tratando de algumas formas como o Brasil caboclo, o martelo, o mourão, nos quais o modelo melódico é mais estável. Os ouvintes da cantoria integram um universo muito heterogêneo em termos de status social, mas conseguem manter-se unificados diante dos poetas cantadores, certamente porque eles representam, simbolicamente, a memória viva de sua cultura. Desse público fazem parte o rurícola, o vaqueiro, o pescador, o pequeno comerciante, o fazendeiro, o político, o profissional liberal, o padre, o empresário, enfim, os representantes das diversas camadas sociais que se diferenciam pelas variadas condições de sobrevivência, mas que têm em comum sua origem sertaneja. Estão todos unificados pela identidade com o mundo rural, pelo linguajar específico da região, pelos hábitos comuns de convivência social, pela relacão com a natureza, pelos mesmos sentimentos da religiosidade e da moral tradicional cristã. Neste CD os cantadores cearenses, Geraldo Amâncio e José Fernandes, apresentam parte da riqueza dos estilos de cantoria, integrando tradição e inovação. Os artistas retomaram uma das temáticas da tradição, a figura de Carlos Magno, a qual ainda se faz presente não só na cantoria e no cordel, mas na xilogravura, nos bailes de pastoris e em outras manifestações populares. No comentário do cantador Geraldo Amâncio, os feitos de Carlos Magno são tão conhecidos no sertão quanto a Bíblia Sagrada.

Elba Braga Ramalho"


Lista de músicas

01 - Sextilha
02 - Quadrão perguntado
03 - No tempo de Pai Tomás
04 - Sete linhas
05 - Gemedeira

Geraldo Amâcio - viola e voz
Zé Fernandes - viola e voz

Baixado do blogue viladepatos.blogspot.com.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

SUASSUNA - BREVE HOMENAGEM


Este grande mestre alcançou todo o êxito abençoado destinado aos raros homens. Viva sua obra e sua proposta armorial!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

GRUPO SYNTAGMA

Amigos(as), aí vai o primeiro disco do Syntagma - homônimo. Baixado do ultra-movimentado blogue de música, PQP Bach (pqpbach.opensadorselvagem.org), que se configura numa das maiores fontes da Boa Música mundiais - salvos alguns comentários um tanto quanto afetados e as publicações de jazz.

Com ênfase à "Ajubete Jepê Amo Mbaê" e às variações de Liduíno Pitombeira, vamos ao disco:


Lista de músicas

01- Schaffertänz (Anônimo medieval) 1:12
02– Parti de Mal (Anônimo medieval) 3:21
03– Algodão (Luiz Gonzaga e Zé Dantas) 3:45
04- Basse Dance (Anônimo renascentista) 2:30
05– Saltarello (Anônimo medieval) 1:24
06– Variações sobre o Juazeiro (Liduino Pitombeira) 5:19
07– Pase El Agua (Anônimo renascentista) 1:46
08– Allegro do Divertimento (Giuseppe Sammartini) 2:46
09- Baião (Luiz Gonzaga-Humberto Teixeira) 3:20
10– Bransle (Anônimo) 1:30
11– Hoboeckentanz (Anônimo) 2:42
12– Ajubete Jepê Amo Mbaê (Liduino Pitombeira) 5:59
13– Come Again (John Dowland) 3:50
14– Courante (Michael Praetorius) 2:02
15– Cantiga (Clóvis Pereira) 5:05
16– Kalenda Maya (Rambaudt de Vaqueiras) 3:43
17– Qui nem Jiló (Luiz Gonzaga-Humberto Teixeira) 2:09
18– Saltarello (Anônimo medieval) 2:28
19– Variações sobre a Muié Rendêra (Liduino Pitombeira) 4:57

Ficha técnica

Luduino Pitombeira -
Duda di Cavalcanti - cravo
Heriberto Porto - flautas
Jorge Santa Rosa - viola de gamba
Solange Gomes - flautas
Giovanni Pacelli -
Roberto Gibbs -
Mirella Cavalcante - voz


terça-feira, 10 de agosto de 2010

GRUPO SYNTAGMA - MIRACULA

"Si quaeris miracula" - obra de Lobo de Mesquita que dá título ao disco.

"Grupo Syntagma" - título do surpreendente grupo de música cearense que fez deste seu segundo e último álbum.

Donos de uma sonoridade ancestral, o Syntagma une, em suas apresentações e discos, música medieval e renascentista a baiões e músicas nordestinas, sob uma forma una, concreta, de modo que não sentimos os saltos entre épocas durante suas execuções. Tudo é beleza e suavidade.

Flautas, percussão, cravo, violão, viola de gamba e vocais são primorosamente executados neste disco, que, aliás, traz importantíssimos (e não menos belos!) registros de composições de músicos nossos: Liduíno Pitombeira e Tarcísio Lima. Também são gravados aqui Alberto Nepomuceno, Nilton Rangel e João Lira.

Vejam o endereço oficial do grupo (desatualizado, ainda da época de seu primeiro disco): http://syntagmaceara.vilabol.uol.com.br.

Syntagma é o Siará Grande tocando e cantando conforme sua magnitude.

Lista de músicas:

01. Ductia (anônimo medieval)

02. Sonatella (Antonio Bertali)

03. When Daphne from fair Phoebus did fly (anônimo)

Si Quaeris Miracula (José Joaquim Lobo de Mesquita)
04. Andante largo
05. Allegro
06. Andante
07. Moderato
08. Allegro da Capo

09. The Earl of Essex’s Galliard (John Dowland)

10. Sonata para sete flautas (Johann Heinrich Schmelzer)

11. Minueto (Alberto Nepomuceno)

Suite Russana (Liduino Pitombeira)
12. Pedras
13. Ingá
14. Bonhu
15. Timbaúba
16. Estrada de Canindé (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)

Suítes Americanas Nº 1 (Tarcísio Lima)
17. Galope
18. Ronda e Anunciação
19. Incelença
20. Estio e Arribação

Seresta Nº 9, Op. 83 (Liduino Pitombeira)
21. Incelença
22. Desafio

23. Pedra Terra (João Lyra e Nilton Rangel)

24. Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)

Ficha técnica:

Heriberto Porto - flautas doce soprano e sopranino e transversas em dó e em sol
Jorge Santa Rosa - viola da gamba
Mardonio Oliveira - flautas doce sopranino, contralto, tenor e baixo
Luciana Gifoni - flautas doce sopranino, soprano, contraldo, tenor e baixo
Solange Gomes - flautas doce soprano e contralto
Nehemias dos Santos - clarineta e flauta tenor
Mirella Cavalcante - voz
Marcelo Holanda - percussões
Verônica Lapa - cravo
Marcelo Moreira - violão

quarta-feira, 28 de julho de 2010

ORQUESTRA ARMORIAL - CHAMADA

"O atavismo latente no homem do nordeste brasileiro, sempre se projetou em minha personalidade musical".

Cussy de Almeida


Estas palavras exprimem muito bem o que faz do nordeste o que ele é; e dos nordestinos, o que são. Violinista, maestro, compositor, criador da Orquestra Armorial, ajudou a fundamentar o movimento homônimo, tendo se revelado como garoto prodígio quando, aos seis anos, realizou seu primeiro recital.

Esta publicação de hoje, do disco "Chamada", de sua orquestra, ofereço como homenagem a ele, pelo seu falecimento, no último dia 23. O álbum traz composições inspiradas no romance "A pedra do reino e o príncipe do sangue vai-e-volta", do escritor e idealizador do Movimento Armorial, Ariano Suassuna.


Lista de músicas:

01 - Cipó Branco de Macaparana (Moenda do Engenho da Casa Grande) (Cussy de Almeida)
02 - Cantiga (Clóvis Pereira)
03 - Chamada Nº 1 (Cavalo Marinho) (Cussy de Almeida / Clóvis Pereira / Jarbas Maciel)
04 - Cantoria (José Tavares de Amorim)
05 - Chamada Nº 2 (A Pedra do Reino) (Jarbas Maciel)
06 - No Reino da Pedra Verde (Clóvis Pereira)
07 - Coco Praieiro (Marcus Accioly / Cussy de Almeida)
08 - Sem Lei Nem Rei - II (Capiba)
09 - Sem Lei Nem Rei - III (Capiba)

Ficha técnica:

Cussy de Almeida - regente
Cussy de Almeida, Brigitta Fassi Fihri, Ricardo Bussi, Benjamin Wolkoff, Cristina Bussi, Samuel Gegna - violinos
Frank Musick, Emílio Sobel - violas
Marisa Johnson, José Carrion - violoncelos
Silvio Coelho - baixo
José Tavares do Amorim, Ivanildo Maciel da Silveira - flauta
José Gomes - cravo
Henrique Annes - violão, viola sertaneja
José Xavier da Silva - berincelo
José Xavier da Silva, Antônio Revorêdo, Geraldo Fernandes Leite, Edilson Nóbrega da Silva - percussão


Baixe em: http://www.megaupload.com/?d=GFSNIQ8A.

sábado, 24 de julho de 2010

MIHAIL MASSAQA - MÚSICA LIBANESA DO RENASCIMENTO ÁRABE


Belíssima música do renascimento árabe (século 19 e início do século 20). Este disco traz a música erudita inspirada no período dos califas abássidas (de 750 a 1258), apogeu da tradição musical do Oriente Árabe.

Veja um trecho do encarte:

"O Renascimento cultural Árabe do século 19 e início do século 20 - chamado de A-n-Nahda - teve expressão no campo musical a partir da ressurreição da tradição do período abássida. Durante o século 19, músicos egípcios, libaneses e sírios reviveram a criatividade medieval, testemunhada por cronistas e gravações, e, principalmente, através do trabalho pioneiro do musicólogo Mihail Massaqa (1800-1888), (...) o qual redigiu o primeiro livro de musicologia árabe do período moderno, (...) o qual trouxe uma descrição metódica do sistema melódico (...) adotado pela tradição musical Renascentista."

Os quartos de tom presentes nestas músicas dão o ar "misterioso" às mesmas e podem soar estranhos a ouvidos recém apresentados. Porém, para quem traz no sangue os genes nordestinos isso não é problema, pois, semelhantemente, os aboios dos vaqueiros ecoam, seculares, trazidos pelos escravos de origem moura ao Nordeste. Da mesma forma, a rouca rabeca, com seu destempero também desliza sobre estes tons orientais.

Mihail Massaqa - Música libanesa do renascimento árabe
Grupo de Música Clássica Árabe da Universidade Antonine - Nidaa Abou Mrad
O legado de Mihail Massaqa (1800-1888)


Faixas:

01.Nahaft al-Arab
02. Shadd Araban
03. Nahaft al-Atrak
04. Nawa or Yakkah
05. Al-Usayran
06. Ajam Ushayran
07. Muqabil Ushayran
08. Al-Iraq
09. Sultan Iraq
10. Iraq Zamzami
11. Mukhalif Iraq
12. Rahat Al-Arwah
13. Rahat Al-Arwah Rumi
14. Ramal
15. Rahat Shadhi
16. Ar-Rast
17. An-Nakriz
18. As-Sazkar As-Sahih
19. Al-Ma' Ranna'
20. Nishawurk
21. Banjkah
22. As-Sazkar Al-Mutaaraf
23. Hijazkar
24. Shawurk Masri
25. Dukah or Ushaq Al-Atrak
26. As-Saba Al-Marakib
27. Saba Humayun
28. Saba Jawish
29. An-Nadi
30. Bayyati Ajami
31. Bayyati Nawa
32. Bayyati Al-Husayni
33. Ash-Shuri Al-Bayyati
34. Dhury Bayyati
35. Al-Yazid Kand or Zir Fakand
36. Al-Husayni
37. Husnik
38. Al-Busalik or Al-Ushaq
39. Hisar Busalik
40. Al-Hisar
41. Ash-Shahnaz
42. Shahnaz Busalik
43. Kurdi Husayni
44. Az-Zarfakand
45. Najdi Al-Husayni
46. Saba Al-Husayni
47. Ash-Shuruqi

Ficha técnica:

Grupo de Música Clássica Árabe da Universidade de Antonine
Nidaa Abou Mrad - violino árabe
Mustafa Said - Alaúde
Harpa árabe (qanun) - Maria Makhoul
Pandeiro árabe (riqq) - Ali Wehbé

quinta-feira, 15 de julho de 2010

SEBASTIÃO DA SILVA E VALDIR TELES - REVOLUÇÃO DO REPENTE


Amigos, perdoem-me a displicência. Depois desta ausência retorno com um grande disco, de dois grandes expoentes do repente, mais especificamente, da cantoria de viola: Sebastião da Silva e Valdir Teles, com o disco "Revolução do repente". Nele, os nomes das faixas estão acompanhados de suas respectivas classificações enquanto forma poética, para quem quiser "estudar a métrica" deste maravilhoso exemplo da trova ancestral nordestina.

Retirado do grande blogue "Vila de Patos" (http://viladepatos.blogspot.com). Atentem para a incomum (no gênero) "No lago da inspiração eu nadei na poesia", acompanhada de violão e bandolim; quem serão os executores?

GRANDE ÁLBUM!


Faixas:

01. Lembrança da minha terra (sextilha)
02. O pescador (beira-mar)
03. Pulmão do planeta (decassílabo)
04. Revolucao do repente (sete silabas)
05. Dourinha (canção)
06. Passeio na história (sextilha)
07. O homem e o animal (decassílabo)
08. Ninguém cortou meu destino (canção)
09. Pena de morte (decassílabo)
10. No lago da inspiração eu nadei na poesia (poema)


segunda-feira, 31 de maio de 2010

MÚSICA ANTIGA DA UFF - A CHANTAR, TROVADORAS MEDIEVAIS

Excelente disco de música antiga (ou antiqua, como muitos gostam de chamar), trabalho dum grupo de artistas brasileiros, da Universidade Federal Fluminense. Ouvi ao Grupo de Música Antiga da UFF, pela primeira vez, com este "A chantar", cujos maravilhosos temas modais me fizeram associar, rapidamente, a música antiga européia com as nossas canções, cantigas nordestinas. Um álbum muito bem gravado e executado; páreo para quaisquer ensembleseuropeus que por aí existem.

Saiba mais sobre o grupo (retirado do blogue oficial, bastante desatualizado - http://musicaantigadauff.zip.net/):

"Idade Média, trovadores, cruzadas, cavaleiros, mosteiros e conventos, peste, renascença, humanismo, grandes navegações, descobrimentos, madrigais comédia del’arte. São imagens que se sobrepõem quando se fala em Música Antiga. Leandro Mendes, Lenora Pinto Mendes, Mário Orlando, Marcio Paes Selles, Virgínia van der Linden, juntos com Peri Santoro e Sonia Leal Wegenast, continuam pesquisando e descobrindo novas formas de levar ao conhecimento do público a música que tanto encantou a Europa ocidental durante quase seis séculos. Ao longo desses anos, os membros do Música Antiga da UFF cruzaram fronteiras e atravessaram o oceano, estudando nos estados unidos e na Europa, especializando-se na linguagem da música medieval e renascentista, adquirindo novos instrumentos, partituras e conhecimentos necessários à qualidade de suas performances. São 22 anos recriando a sonoridade da Idade Média e do Renascimento, sempre buscando entreter o espectador com o encanto e a magia presentes nesse repertório. Desde então, foram mais de 500 concertos por todo o Brasil, trilhas sonoras, vídeo-clips, quatro discos gravados, além da organização de cursos, festivais e feiras renascentistas realizados na Universidade federal Fluminense."

E pra quem acha que a mulher não tinha vez na Idade Média, aqui também há o texto do encarte do CD: http://dci2.ccsa.ufpb.br:8080/jspui/bitstream/123456789/96/1/A%20Chantar%20(Trovadoras%20Medievais).pdf.


Lista de músicas:

1. SALTARELLO (anônimo - Itália, séc. XIV)
2. A CHANTAR M'ER DE SO Q'IEU NO VOLRIA (Beatriz de Dia)
3. LA UITIME ESTAMIE ROYAL (anônimo - França, séc. XIII)
4. AMOURS, U TROP TART ME SUI PRIS (Blanche de Castile)
5. LA SECONDE ESTAMPIE ROYAL (anônimo - França, séc. XIII)
6. MOUT M'ABELIST QUANT JE VOI REVENIR (Maroie de Dregnau de Lille)
7. LA QUINTA ESTAMPIE ROYAL (anônimo - França, séc. XIII)
8. STAMPITA GAETA (anônimo - Itália, séc. XIV)
9. CHANTERAI POR MON CORAIGE (letra atribuída à Dame du Fayel)
10. BELE ODETTE AS FENESTRES SE SIET (anônimo)
11. LA MANFREDINA E LA ROTA (anônimo - Itália, séc. XIV)

Ficha técnica:

Mario Orlando (viele de arco, tambor e prato, rabeca, charamela e coro) - Formado em Matemática pela UFRJ, concluiu o mestrado em Música Medieval e Renascentista pelo Sarah Lawrence College, em l989 (NY - USA). Dirige o grupo especializado em música da renascença - ANONIMUS.

Peri Santoro (flautas, percussão, tenor e coro) - Bacharel em Piano pela Academia Lorenzo Fernandes na classe do Prof. Luís Henrique Senise, Licenciatura em Educação Musical pelo Conservatório Brasileiro de Música, Pós-Graduação em Musicologia pelo Conservatório Brasileiro de Música. Professor de Análise e Percepção musical da faculdade de Música da Universidade Estácio de Sá. Foi membro do conjunto Roberto de Regina e do conjunto de Música Antiga da Rádio MEC, atualmente é membro efetivo do Música Antiga da UFF.

Leandro Mendes (flautas, buzuk, gemshorn, viele de roda e coro) - Graduado em canto pela Universidade Estácio de Sá. Iniciou seus estudos em Flauta Doce em l977, vindo mais tarde cursar a Graduação do mesmo instrumento no Conservatório Brasileiro de Música onde foi aluno de Helder Parente. Estudou ainda no Curso Yan Guest onde fez aperfeiçoamento musical com Mariza Gandelman.

Virgínia van der Linden (viele de roda, címbalos, saltério) - Formada em Canto pela UFRJ, na classe da prof. Diva Abalada, cursou flauta transversa com o prof. Celso Wotzenlogel.

Sonia Leal Wegenast (voz, harpa, darabuka e precussão) - Especializada em técnica vocal e na linguagem Medieval e Renascentista, atuando como convidada do Música Antiga da UFF em vários concertos e gravações, desde 1994, quando da produção do CD "Lope de Vega - Poesias Cantadas", participando também em 1996 da gravação do CD "Cânticos de Amor e Louvor" e em 1998 do CD "Música no tempo das Caravelas".


sexta-feira, 21 de maio de 2010

ELOMAR - DAS BARRANCAS DO RIO GAVIÃO

Mais um do louvável Elomar. Suas fazendas (caatingueiras, sertanejas) lhe trouxeram toda a inspiração para proferir em alto e abençoado tom suas criações de menestrel. Este seu primeiro me impressiona, como um todo, e me enche o peito de melancolia ao soar da "Incelença do amor retirante", como se fosse eu que ouvira, frustrantemente, o grilo violeiro.

Salve, Elomar!



Ficha técnica:

Direção e Produção: Roberto Santana
Técnicos de Gravação: Djalma & Bahia
Estúdio: J.S. Gravações Bahia
Fotos: Jamison Pedra & Sílvio Robatto
Corte: Joaquim Figueira
Todas as composições são de Elomar

Faixas:

01. O Violêro
02. O Pidido
03. Zefinha
04. Incelença do Amor Retirante
05. Joana Flôr Das Alagoas
06. Cantiga de Amigo
07. Cavaleiro do São Joaquim
08. Na Estrada Das Areias de Ouro
09. Retirada
10. Cantada
11. Acalanto
12. Canção Da Catingueira

Baixe aqui: http://www.megaupload.com/?d=NC2YERLN.

terça-feira, 18 de maio de 2010

ANIMA - ESPELHO

Hoje compartilho o último disco da banda Anima (http://www.animamusica.art.br). Conheci-os a partir do seu primeiro: "Espiral do tempo". Músicos duma proposta muito interessante, baseada na música antiga, valorizam instrumentos de época e pesquisa musical. Pra mim, o Anima seria um grupo que canta a história musical brasileira, desde antes do descobrimento (em ambos os lados do atlântico), até a colônia e o que se estabeleceu logo após a mesma.


Às músicas:

1. Santidade - mundano (Tradição oral brasileira - Minas Gerais)
2. Bendito (Tradição oral brasileira)
3. Stella splendens in monte (Anônimo, Espanha, séc. XIV)
4. Dos estrellas le siguen (Manuel Machado)
5. A chantar (Comtessa de Dia, séc. XII)
6. Caleidoscópio - Ricardo Matsuda (Ricardo Matsuda)
7. Engenho novo (Tradição oral brasileira - Rio Grande do Norte e Informada por Chico Antônio)
8. Jongo - tradição oral brasileira (Tradição oral brasileira)
9. Sereia (Tradição oral brasileira - Pará)
10. Beira mar - vinheta (Tradição oral brasileira - Minas Gerais)
11. Lamento - Ricardo Matsuda (Ricardo Matsuda)
12. Casinha pequenina (Tradição oral brasileira - São Paulo)
13. Chominciamento di gioia - aboio (Anônimo, séc. XIV e Tradição oral brasileira)
14. Rosa das rosas (Anônimo, Cantiga de Santa Maria X, séc. XIII - Portugal)
15. Rorate caeli desuper (Canto Gregoriano Is. 45,8; Ps.18)
16. Na hora das horas (Tradição oral brasileira - Paraíba)
17. Viva janeiro (Tradição oral brasileira - Bahia)
18. Beira mar - faixa adicional (Tradição oral brasileira - Minas Gerais)

Ficha técnica:

Dalga Larrondo: percussão
Isa Taube: voz
Luiz Henrique Fiaminghi: rabecas brasileiras
Patricia Gatti: cravo
Ricardo Matsuda: viola brasileira
Valeria Bittar: flautas-doce e yãkwá

Baixe em: http://www.megaupload.com/?d=FD7JNCA3.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

TRÊS CULTURAS - JUDEUS, CRISTÃOS E MUÇULMANOS

Outro arquiteto: Eduardo Paniagua. Este espanhol é um monstro na pesquisa de música antiga, especialmente árabe-andaluza. Toca instrumentos de sopro e percussão e se revelou prodígio gravando quatro discos aos 16 anos. O disco em questão, fruto de uma de suas pesquisas, trata de composições que muito bem retratam a Espanha medieval, então dominada pelos mouros, que se configurou como núcleo europeu de produção científica, filosófica e cultural, graças à vivência conjunta e "harmoniosa" dos povos cristão, muçulmano e judeu. Conta, também, com a participação do famoso alaudista Omar Metioui.

Assim como nosso menestrel das caatingas, Elomar, graças a Deus (Javé, Alá e Javé, com Cristo e Maomé) este Paniagua não se contentou só com os traçados de construções. Boa audição!


Lista de músicas e ficha técnica (retirado do endereço http://www.pneumapaniagua.es - selo Pneuma):

TRES CULTURAS - JUDIOS, CRISTIANOS Y MUSULMANES EN LA ESPAÑA MEDIEVAL

EDUARDO PANIAGUA

1 - KI ESHMERÁ SHABAT - Canción de Shabat de Abraham Ibn Ezra (1089-1167) 3’54”
2 - YA VIENE EL CATIVO - Canción sefardí del Mediterraneo oriental 4’43”
3 - NON ME MORDAS YA HABIBI - Jarcha de la moaxaja nº 8 de Jehuda Halevi (1070-1141) 4’07”
4 - NANI, NANI - Canción de cuna sefardí oriental 5’37”
5 - IODUJÁ RAIONAI - Canción del Shabat de Israel Najara (Safed, siglo XVI) 4’40”

SEFARAD - Dirección EDUARDO PANIAGUA

JORGE ROZEMBLUM - Canto solista, coro, citolón y pandero
AURORA MORENO - Canto solista, coro y tar
LUIS DELGADO - Laúd, zanfona, santur, darbuga, tar y coro
EDUARDO PANIAGUA - Qanun, flautas (fahl, alto, salamilla), y coro

6 al 15 - VIDA Y PEREGRINACIÓN. Música para el Camino de Santiago de Teobaldo I de Navarra (1201–1253), Alfonso X el Sabio (1221–1284) y Códice Calixtino 18’49”

6 - AMOURS ME FAIT COMENCIER 1’51”
Canción de amor de Teobaldo I de Navarra (1201-1253).
Tromba marina, flauta tenor, salterio y címbalos.
7 - FIESTA DE LA CIRCUNCISIÓN 1’40”
Anónimo andalusí en la tradición de Tunez. Maluf,
Laúd, nay, darbuga y tar.
8 - EN QUANTAS GUISAS OS SEUS ACORRER 1’25”
Melodía de la Cantiga 339 de Alfonso X (1221-1284).
Flauta tenor y soprano, zanfona, viola de teclas y tabila.
9 - U ALGUEN A JHESU CRISTO POR SEUS PECADOS NEGAR 1’46”
Melodía de la Cantiga 281 de Alfonso X.
Qanun, salterio, bendir y tar.
10 - A QUE POR NOS SALVAR 2’00”
Melodía de la Cantiga 169 de Alfonso X.
Laúd, fahl, darbuga, tar y címbalos.
11 - GRAN CONFIANÇA NA MADRE DE DEUS 1’58”
Melodía de la Cantiga 268 de Alfonso X.
Flautas pastoriles, panderos, darbuga y qaraqueb.
12 - POIS AOS SEUS QUE AMA DEFENDE TODAVIA 2’11”
Melodía de la Cantiga 264 de Alfonso X.
Dutar, salterio, viola, tromba marina, zanfona, campana y sistro de arena.
13 - DUM PATER FAMILIAS 2’28”
Códice Calixtino. Santiago de Compostela siglo XII.
Flauta tenor, salterio, qanun, viola de teclas, pandero, tar y voces.
14 - COGAUDEANT CATHOLICI 2’00”
Atribuido a Magister Albertus Parisiensis. Códice Calixtino siglo XII.
Flauta soprano, salterio y campanillas.
15 - PHELIPE 1’30”
Debate de Teobaldo I de Navarra.
Cítola, flauta soprano y tenor, salterio, zanfona, darbuga y tar.

LUIS DELGADO - Laúd, dutar, cítola, zanfona, tromba marina, viola de teclas,
darbuga, bendir, pandero, tar, qaraquebs y campanillas
EDUARDO PANIAGUA - Salterio, qanun, flautas soprano, tenor y pastoril, nay,
tromba marina, darbuga, tabila, pandero, tar, sistro de arena, campana y voces

16 - MUWWAL ISBIHÁN - “No todo el que pide felicidad la encuentra” 2’57”
17 - SANÁ Q’AIM WA NISF TAB S-SIKA 7’17”
18 - INSHÁD ISBIHÁN - “Al contemplar no vi a otro amado” Al-Shushtarí (1212-1269) 3’45”

EL ARABÍ SERGHINI - Canto
OMAR METIOUI - Laúd árabe
AHMED AL-GAZI - Viola alto


sábado, 1 de maio de 2010

ELOMAR - NA QUADRADA DAS ÁGUAS PERDIDAS

Salve o menestrel das caatingas! Elomar é artista único e de uma profundidade tão verdadeira que não se pode classificar. Suas músicas são manifestações espontâneas da sua alma e dos espíritos de tudo o que ele canta: dos campos áridos, dos animais e das coisas agrestes, do rio seco, dos intrépidos e sofredores sertanejos. É medieval sem ser europeu; é brasileiro sendo universal. É o Nordeste cantado e tocado em forma atemporal.

“Na quadrada das águas perdidas” é seu segundo álbum, de uma beleza ímpar e sem páreo. Todas as músicas merecem destaque. Ouçamos e nos regozijemos.



Lista de músicas:

01. A Meu deus um Canto Novo
02. Na Quadrada das Águas Perdidas
03. A Pergunta
04. Arrumação
05. Deserança
06. Chula no Terreiro
07. Campo Branco
08. Parcelada (do Auto da Catingueira)
09. Estrela Maga dos Ciganos
10. Função
11. Noite de Santos Reis
12. Cantoria Pastoral
13. O Rapto de Joana do Tarugo
14. Canto de Guerreiro Mongoió
15. Clariô (do Auto da Catingueira)
16. Bespa (do Auto da Catingueira)
17. Dassanta (do Auto da Catingueira)
18. Curvas do Rio
19. Tirana (de O Tropeiro Gonsalin)
20. Puluxias (de O Tropeiro Gonsalin)

Ficha técnica:

Gravação: Alcivando Luz e João Américo
Mixagem: Alcivando Luz
Corte e Montagem: Zorro
Canto e Vilão: Elomar
Flauta: Elena Rodrigues
Violão e Charango: Dércio Marques
Vozes: Dércio Marques, Xangai e Carlos Pita
Direção: Carlos Pita e Dércio Marques
Produção de Agravi: Antônio C. Limonge
Capa: Detalhe de um Óleo de Orlando Celino
Encarte: Prof. Ernani Maurílio
Direção de Arte: Walter O Passos Filho
Estúdio: Seminário de Música da Universidade Federal da Bahia
Todas as composições são de Elomar.

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quinta-feira, 29 de abril de 2010

FORRÓ NO CARIRI - BANDA CABAÇAL DOS IRMÃOS ANICETO

Quem já pôde assistir, ao vivo, a uma apresentação dos Irmãos Aniceto sabe, de fato, o que é o grupo. Expressão artística fortíssima do Cariri cearense, performances cativantes, velhos tocadores de pífano e dançadores com energia e vigor físico que muito bem figuram a frase euclidiana transformada em chavão (mas bem verdadeira!). Àqueles que melhor se identificam e se deixam possuir pelo ritmo e poder das marchas e baiões, um ferver sangüíneo traz ao corpo e à mente um reviver ancestral, recém-miscigenado. Os pífanos dobrados, em contraponto, contratempo, rasgam os ares como sons naturais, tapuias, sob percussão do couro de bode baqueado da zabumba de baraúna e da caixa de guerra. Das cabaçais que conheço, trata-se da mais indígena de todas.

Com gosto de pequi e sons de taboca.




Lista de músicas:

1. Marcha de chegada (domínio público)
2. Marcha caririzeira (domínio público)
3. Marcha rebatida pé-de-serra (domínio público)
4. Marcha de estrada (domínio público)
5. Marcha frevo (domínio público)
6. Forró no Cariri (domínio público)
7. Alvorada (domínio público)
8. Galope (domínio público)
9. Quilombo (domínio público)
10. Bendito de Padre Cícero Romão Batista (domínio público)
11. Bendito de Nossa Senhora das Candeias (domínio público)
12. Bendito de Nossa Senhora da Penha (Maestro Azul & Dom Quintino)
13. O bem-te-vi (Raimundo José da Silva)
14. Alegra o povo (domínio público)
15. Parabéns pra você (domínio público)
16. Quilariô (Cícero, Adriano e Joval)

Ficha técnica:

Antônio - pífano
Raimundo - pífano
Cícero - caixa
Joval - pratos
Adriano - zabumba

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segunda-feira, 12 de abril de 2010

ORQUESTRA ARMORIAL - CUSSY DE ALMEIDA

Meus caros, sejam bem-vindos! Neste espaço virtual pretendo compartilhar, a quem desejar, algumas obras musicais que me agradam, dentro da proposta armorial, popular e antiga. Como o próprio nome sugere, criações e execuções de repentistas, trovadores, tocadores de pífano, viola, alaúde, rabeca etc.

Dessa maneira, abro os trabalhos com este disco da Orquestra Armorial de Câmara, de 1975, dirigido por Cussy de Almeida, cuja beleza e riqueza musical são emanadas em todas as direções quando o escutamos, da primeira à última música. Conforme diz na contra-capa do disco o grande idealizador do Movimento Armorial, Ariano Suassuna, esta é mais "uma pedra esculpida e deixada como marco de passagem" deste movimento tão magnífico e autenticamente brasileiro. Veja o texto completo abaixo:

"A MÚSICA E O MOVIMENTO ARMORIAL

A Orquestra Armorial de Câmera — fundada e dirigida por Cussy de Almeida — teve origem no trabalho que começamos em 1969 e que ainda hoje está em andamento sob o nome de Movimento Armorial. Em nosso caso, pode-se dizer que a Arte Armorial precedeu o Movimento, ao contrário do que normalmente acontece. De fato, o trabalho criador da maioria dos artistas armoriais começou muito antes do lançamento oficial do Movimento, ocorrido em 1970. Por outro lado, este ainda está em plena atuação, de modo que os quadros, músicas, poemas, tapeçarias, romances, esculturas e peças-de-teatro que apresentamos no decorrer desses quatro anos representam, se me perdoam o lugar-comum, como que pedras esculpidas e deixadas como marcos de nossa passagem e do nosso trabalho criador, à margem do caminho – um caminho que ainda vai muito longe, pois, na medida em que o percorremos, numa dura mas infatigável ascensão para o alto, vamos distinguindo melhor, aos poucos, nossos erros dos acertos, o mais verdadeiro do menos verdadeiro, a aspereza brasileira e latino-americana das acomodações, das falsas novidades de “vanguarda”, das idéias-feitas vindas de fora e de dentro, ou de uma rotina, de uma tradição mal interpretada e mal compreendida.

Para nós, que trabalhamos no Movimento Armorial, tudo está ficando cada vez mais claro, estamos vendo de maneira cada vez mais nítida o que temos de fazer. Acredito, porém, que, para uma porção da gente – e é natural que assim aconteça – até mesmo o nome Armorial que escolhemos para batizar o Movimento ainda constitua um enigma. O que será, portanto, a Arte Armorial? Respondo com palavras que já escrevi mais de uma vez: a Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito realista e mágico dos “folhetos” do Romanceiro Popular do Nordeste – Literatura de Cordel – com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus “cantares” e com a Xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das Artes e espetáculos populares com esse mesmo Romanceiro relacionados.

O “folheto” de nossa Literatura de Cordel pode, realmente, servir-nos de bandeira, porque reúne três caminhos: um, para a Literatura, o Cinema e o Teatro, através da Poesia narrativa de seus versos; outro, para as Artes plásticas, como a Gravura, a Pintura, a Escultura a Talha, a Cerâmica ou a Tapeçaria, através dos entalhes feitos em casca-de-cajá para as xilogravuras que ilustram suas capas, e finalmente um terceiro caminho para a Música, através das “solfas” e “ponteados” que acompanham ou constituem seus “cantares”, o canto de seus versos e estrofes. Quanto ao nome Armorial recordo o que escrevi no lançamento oficial, digamos assim, do Movimento. No dia 18 de outubro dc 1970, realizaram-se, na Igreja de São Pedro dos Clérigos, do Recife, um concerto da Orquestra Armorial de Câmera e uma exposição de Artes plásticas, para cujo catálogo-programa escrevi as seguintes palavras:

“Em nosso idioma, armorial é somente um substantivo. Passei a empregá-lo também como adjetivo. Primeiro, porque é um belo nome. Depois, porque é ligado aos esmaltes da Heráldica, limpos, nítidos, pintados sobre metal ou, por outro lado, esculpidos em pedra, com animais fabulosos, cercados por folhagens, sóis, luas e estrelas. Foi aí que, meio sério, meio brincando, comecei a dizer que tal poema ou tal estandarte de Cavalhada era um armorial, isto é, brilhava em esmaltes puros, festivos, nítidos, metálicos e coloridos, como uma bandeira, um brasão ou um toque de clarim. Lembrei-me, aí também, das pedras armoriais dos portões e frontadas do Barroco brasileiro, e passei a estender o nome à Escultura com a qual sonhava para o Nordeste. Descobri que o nome armorial servia, ainda, para qualificar os cantares do Romanceiro, os toques de viola e rebeca dos Cantadores – toques ásperos, arcaicos, acerados, como gumes de faca-de-ponta, lembrando o clavicórdio e a viola-de-arco da nossa Música barroca do século XVIII”.

O Movimento Armorial pretende realizar uma Arte brasileira erudita a partir das raízes populares da nossa Cultura. Por isso, algumas pessoal estranham, às vezes, que tenhamos adotado o nome de “Armorial” para denominá-lo. Acontece que, sendo ”armorial” o conjunto de insígnias, brasões, estandartes e bandeiras dc um Povo, no Brasil a Heráldica é uma Arte muito mais popular — ou ligada ao popular — do que qualquer outra coisa. Assim, o nome que adotamos significa, muito bem, que nós desejamos ligar-nos a essas heráldicas raízes da Cultura popular brasileira.

Outra coisa que é necessário salientar é que, ao falarmos no Barroco, por exemplo, não estamos pregando nenhuma volta romântica, sentimental c falsa ao passado. Queremos que a Arte Armorial seja expressão do nosso Povo e do nosso tempo: não, porém, com uma concepção estreita de realismo dogmático, nem com as novidades falsas da “vanguarda”, nem com o retorno e o culto meio mórbido do passado morto. Quando falamos na importância da áspera Arte primitiva ou do violento Barroco primitivizado da Cultura brasileira, é porque descobrimos certas identificações entre o modo de criar e de interpretar do nosso Povo, com seus Instrumentos rústicos e poderosos, e certos elementos e formas dessas Culturas que hoje nos parecem remotas, mas que pressinto estarem muito mais próximas da Arte que se anuncia para o futuro do que essas formas de arte pós-renascentistas e puramente greco-latinas, esse academicismo do qual, sem talvez, disso se aperceberem até as “vanguardas” contemporâneas fazem parte.

No presente disco, então presentes, de Cussy de Almeida, uma “Abertura”, o “Nordestinados”, um “Kyrie” e um “Aboio”, dos quais a “Abertura” é a música da qual mais gosto. O Guerra-peixe – que, com Jarbas Maciel, foi figura fundamental para que surgisse a Música Armorial – comparece com duas músicas, o “Mourão” e o “Galope”. O nosso Capiba comparece com uma música excelente, sóbria e forte; “Sem Lei nem Rei”, José Tavares dc Amorim, flautista de grande categoria, compôs duas músicas, “Pífanos em Dobrado” e “Ciranda Armorial”, ambas tocadas, aqui, usando-se na execução, pífanos populares feitos dc taboca, e não flautas. Já o “Terno de Pífanos” de Clóvis Pereira, apesar de composto no espírito dos “ternos” é executado com flautas. Finalmente, de Antônio José Madureira, esse extraordinário jovem compositor do Movimento Armorial, vem aqui o “Repente”.

Como já disse, é claro que nem todos os trabalhos que realizamos até agora no Movimento Armorial têm a mesma qualidade, coisa que não acontece nem na obra de um artista só, quanto mais no trabalho de todo um grupo. Mas é bom esclarecer que, ao contrário do que pensam os que sustentam posições contrárias às nossas, o Movimento Armorial, longe de estar encerrando suas atividades está é iniciando uma segunda fase de trabalho criador, muito mais importante do que a primeira. Quem viver, verá.

Este disco da Orquestra Armorial de Câmera e o outro lançado pelo Quinteto Armorial são apenas uma espécie de prestação de contas do que fizemos na primeira fase, no campo da Música, e anúncio da segunda fase. Estamos conscientes de que, até agora, acertamos numas coisas, noutras não. Uma coisa, porém, eu garanto: a experiência que adquirimos com nossos erros foi tão importante para o trabalho que vamos iniciar a partir d’agora quanto aquela que ganhamos com nossos acertos.

Diga-se, aliás, de passagem, que somente nós, do Movimento Armorial, é que temos sido exageradamente severos ao apontar nossos próprios erros: o público e a critica receberam-nos de braços abertos, em 1970, e assim continuam em 1974. Esse aplauso carinhoso e forte é que, de fato, nos traz obrigações maiores: devemos a ele uma exigência cada vez mais severa em relação a nosso trabalho – e é essa exigência que vai nos guiar na segunda fase que se anuncia. Não somos novidadeiros: a segunda fase não é uma negação da primeira, é um aprofundamento, uma ampliação daquelas linhas que já traçamos várias vezes e que, no campo da Música, exige a procura de uma composição brasileira, de uma Música brasileira erudita de raízes populares, de um “som” brasileiro, num conjunto de câmera apto à tocar a Música européia (principalmente a mais antiga, tão importante para nos, brasileiros), mas também a expressar o que a Cultura brasileira tem de extra-europeu.

Assim, estamos conscientes de que a Arte Armorial, partindo das raízes populares da nossa Cultura, não pode nem deve se limitar à repetí-las; tem de recriá-las c transformá-las. Por outro lado, temos consciência de que, se conseguirmos expressar o que é nosso com a qualidade artística necessária, estaremos seguindo o único caminho capaz de levar á verdadeira Arte universal, – aquela que, partindo do nacional, se universaliza pela boa qualidade.


Ariano Suassuna"


Músicas:

1 - Abertura (Cussy de Almeida)
2 - Galope (Guerra Peixe)
3 - Ciranda armorial (Jose Tavares de Amorim)
4 - Nordestinados (Cussy de Almeida)
5 - Repentes (Antonio Jose Madureira)
6 - Terno de pífanos (Clóvis Pereira)
7 - Aboio (Cussy de Almeida)
8 - Mourão (Guerra Peixe)
9 - Pífanos em dobrado (Jose Tavares Amorim)
10 - Sem lei nem rei - 1º. Movimento (Capiba)
11 - Kyrie (Cussy de Almeida)
12 - Abertura (Cussy de Ameida)

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