Música armorial, antiga e expressões artísticas correlatas.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

FORRÓ NO CARIRI - BANDA CABAÇAL DOS IRMÃOS ANICETO

Quem já pôde assistir, ao vivo, a uma apresentação dos Irmãos Aniceto sabe, de fato, o que é o grupo. Expressão artística fortíssima do Cariri cearense, performances cativantes, velhos tocadores de pífano e dançadores com energia e vigor físico que muito bem figuram a frase euclidiana transformada em chavão (mas bem verdadeira!). Àqueles que melhor se identificam e se deixam possuir pelo ritmo e poder das marchas e baiões, um ferver sangüíneo traz ao corpo e à mente um reviver ancestral, recém-miscigenado. Os pífanos dobrados, em contraponto, contratempo, rasgam os ares como sons naturais, tapuias, sob percussão do couro de bode baqueado da zabumba de baraúna e da caixa de guerra. Das cabaçais que conheço, trata-se da mais indígena de todas.

Com gosto de pequi e sons de taboca.




Lista de músicas:

1. Marcha de chegada (domínio público)
2. Marcha caririzeira (domínio público)
3. Marcha rebatida pé-de-serra (domínio público)
4. Marcha de estrada (domínio público)
5. Marcha frevo (domínio público)
6. Forró no Cariri (domínio público)
7. Alvorada (domínio público)
8. Galope (domínio público)
9. Quilombo (domínio público)
10. Bendito de Padre Cícero Romão Batista (domínio público)
11. Bendito de Nossa Senhora das Candeias (domínio público)
12. Bendito de Nossa Senhora da Penha (Maestro Azul & Dom Quintino)
13. O bem-te-vi (Raimundo José da Silva)
14. Alegra o povo (domínio público)
15. Parabéns pra você (domínio público)
16. Quilariô (Cícero, Adriano e Joval)

Ficha técnica:

Antônio - pífano
Raimundo - pífano
Cícero - caixa
Joval - pratos
Adriano - zabumba

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segunda-feira, 12 de abril de 2010

ORQUESTRA ARMORIAL - CUSSY DE ALMEIDA

Meus caros, sejam bem-vindos! Neste espaço virtual pretendo compartilhar, a quem desejar, algumas obras musicais que me agradam, dentro da proposta armorial, popular e antiga. Como o próprio nome sugere, criações e execuções de repentistas, trovadores, tocadores de pífano, viola, alaúde, rabeca etc.

Dessa maneira, abro os trabalhos com este disco da Orquestra Armorial de Câmara, de 1975, dirigido por Cussy de Almeida, cuja beleza e riqueza musical são emanadas em todas as direções quando o escutamos, da primeira à última música. Conforme diz na contra-capa do disco o grande idealizador do Movimento Armorial, Ariano Suassuna, esta é mais "uma pedra esculpida e deixada como marco de passagem" deste movimento tão magnífico e autenticamente brasileiro. Veja o texto completo abaixo:

"A MÚSICA E O MOVIMENTO ARMORIAL

A Orquestra Armorial de Câmera — fundada e dirigida por Cussy de Almeida — teve origem no trabalho que começamos em 1969 e que ainda hoje está em andamento sob o nome de Movimento Armorial. Em nosso caso, pode-se dizer que a Arte Armorial precedeu o Movimento, ao contrário do que normalmente acontece. De fato, o trabalho criador da maioria dos artistas armoriais começou muito antes do lançamento oficial do Movimento, ocorrido em 1970. Por outro lado, este ainda está em plena atuação, de modo que os quadros, músicas, poemas, tapeçarias, romances, esculturas e peças-de-teatro que apresentamos no decorrer desses quatro anos representam, se me perdoam o lugar-comum, como que pedras esculpidas e deixadas como marcos de nossa passagem e do nosso trabalho criador, à margem do caminho – um caminho que ainda vai muito longe, pois, na medida em que o percorremos, numa dura mas infatigável ascensão para o alto, vamos distinguindo melhor, aos poucos, nossos erros dos acertos, o mais verdadeiro do menos verdadeiro, a aspereza brasileira e latino-americana das acomodações, das falsas novidades de “vanguarda”, das idéias-feitas vindas de fora e de dentro, ou de uma rotina, de uma tradição mal interpretada e mal compreendida.

Para nós, que trabalhamos no Movimento Armorial, tudo está ficando cada vez mais claro, estamos vendo de maneira cada vez mais nítida o que temos de fazer. Acredito, porém, que, para uma porção da gente – e é natural que assim aconteça – até mesmo o nome Armorial que escolhemos para batizar o Movimento ainda constitua um enigma. O que será, portanto, a Arte Armorial? Respondo com palavras que já escrevi mais de uma vez: a Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito realista e mágico dos “folhetos” do Romanceiro Popular do Nordeste – Literatura de Cordel – com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus “cantares” e com a Xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das Artes e espetáculos populares com esse mesmo Romanceiro relacionados.

O “folheto” de nossa Literatura de Cordel pode, realmente, servir-nos de bandeira, porque reúne três caminhos: um, para a Literatura, o Cinema e o Teatro, através da Poesia narrativa de seus versos; outro, para as Artes plásticas, como a Gravura, a Pintura, a Escultura a Talha, a Cerâmica ou a Tapeçaria, através dos entalhes feitos em casca-de-cajá para as xilogravuras que ilustram suas capas, e finalmente um terceiro caminho para a Música, através das “solfas” e “ponteados” que acompanham ou constituem seus “cantares”, o canto de seus versos e estrofes. Quanto ao nome Armorial recordo o que escrevi no lançamento oficial, digamos assim, do Movimento. No dia 18 de outubro dc 1970, realizaram-se, na Igreja de São Pedro dos Clérigos, do Recife, um concerto da Orquestra Armorial de Câmera e uma exposição de Artes plásticas, para cujo catálogo-programa escrevi as seguintes palavras:

“Em nosso idioma, armorial é somente um substantivo. Passei a empregá-lo também como adjetivo. Primeiro, porque é um belo nome. Depois, porque é ligado aos esmaltes da Heráldica, limpos, nítidos, pintados sobre metal ou, por outro lado, esculpidos em pedra, com animais fabulosos, cercados por folhagens, sóis, luas e estrelas. Foi aí que, meio sério, meio brincando, comecei a dizer que tal poema ou tal estandarte de Cavalhada era um armorial, isto é, brilhava em esmaltes puros, festivos, nítidos, metálicos e coloridos, como uma bandeira, um brasão ou um toque de clarim. Lembrei-me, aí também, das pedras armoriais dos portões e frontadas do Barroco brasileiro, e passei a estender o nome à Escultura com a qual sonhava para o Nordeste. Descobri que o nome armorial servia, ainda, para qualificar os cantares do Romanceiro, os toques de viola e rebeca dos Cantadores – toques ásperos, arcaicos, acerados, como gumes de faca-de-ponta, lembrando o clavicórdio e a viola-de-arco da nossa Música barroca do século XVIII”.

O Movimento Armorial pretende realizar uma Arte brasileira erudita a partir das raízes populares da nossa Cultura. Por isso, algumas pessoal estranham, às vezes, que tenhamos adotado o nome de “Armorial” para denominá-lo. Acontece que, sendo ”armorial” o conjunto de insígnias, brasões, estandartes e bandeiras dc um Povo, no Brasil a Heráldica é uma Arte muito mais popular — ou ligada ao popular — do que qualquer outra coisa. Assim, o nome que adotamos significa, muito bem, que nós desejamos ligar-nos a essas heráldicas raízes da Cultura popular brasileira.

Outra coisa que é necessário salientar é que, ao falarmos no Barroco, por exemplo, não estamos pregando nenhuma volta romântica, sentimental c falsa ao passado. Queremos que a Arte Armorial seja expressão do nosso Povo e do nosso tempo: não, porém, com uma concepção estreita de realismo dogmático, nem com as novidades falsas da “vanguarda”, nem com o retorno e o culto meio mórbido do passado morto. Quando falamos na importância da áspera Arte primitiva ou do violento Barroco primitivizado da Cultura brasileira, é porque descobrimos certas identificações entre o modo de criar e de interpretar do nosso Povo, com seus Instrumentos rústicos e poderosos, e certos elementos e formas dessas Culturas que hoje nos parecem remotas, mas que pressinto estarem muito mais próximas da Arte que se anuncia para o futuro do que essas formas de arte pós-renascentistas e puramente greco-latinas, esse academicismo do qual, sem talvez, disso se aperceberem até as “vanguardas” contemporâneas fazem parte.

No presente disco, então presentes, de Cussy de Almeida, uma “Abertura”, o “Nordestinados”, um “Kyrie” e um “Aboio”, dos quais a “Abertura” é a música da qual mais gosto. O Guerra-peixe – que, com Jarbas Maciel, foi figura fundamental para que surgisse a Música Armorial – comparece com duas músicas, o “Mourão” e o “Galope”. O nosso Capiba comparece com uma música excelente, sóbria e forte; “Sem Lei nem Rei”, José Tavares dc Amorim, flautista de grande categoria, compôs duas músicas, “Pífanos em Dobrado” e “Ciranda Armorial”, ambas tocadas, aqui, usando-se na execução, pífanos populares feitos dc taboca, e não flautas. Já o “Terno de Pífanos” de Clóvis Pereira, apesar de composto no espírito dos “ternos” é executado com flautas. Finalmente, de Antônio José Madureira, esse extraordinário jovem compositor do Movimento Armorial, vem aqui o “Repente”.

Como já disse, é claro que nem todos os trabalhos que realizamos até agora no Movimento Armorial têm a mesma qualidade, coisa que não acontece nem na obra de um artista só, quanto mais no trabalho de todo um grupo. Mas é bom esclarecer que, ao contrário do que pensam os que sustentam posições contrárias às nossas, o Movimento Armorial, longe de estar encerrando suas atividades está é iniciando uma segunda fase de trabalho criador, muito mais importante do que a primeira. Quem viver, verá.

Este disco da Orquestra Armorial de Câmera e o outro lançado pelo Quinteto Armorial são apenas uma espécie de prestação de contas do que fizemos na primeira fase, no campo da Música, e anúncio da segunda fase. Estamos conscientes de que, até agora, acertamos numas coisas, noutras não. Uma coisa, porém, eu garanto: a experiência que adquirimos com nossos erros foi tão importante para o trabalho que vamos iniciar a partir d’agora quanto aquela que ganhamos com nossos acertos.

Diga-se, aliás, de passagem, que somente nós, do Movimento Armorial, é que temos sido exageradamente severos ao apontar nossos próprios erros: o público e a critica receberam-nos de braços abertos, em 1970, e assim continuam em 1974. Esse aplauso carinhoso e forte é que, de fato, nos traz obrigações maiores: devemos a ele uma exigência cada vez mais severa em relação a nosso trabalho – e é essa exigência que vai nos guiar na segunda fase que se anuncia. Não somos novidadeiros: a segunda fase não é uma negação da primeira, é um aprofundamento, uma ampliação daquelas linhas que já traçamos várias vezes e que, no campo da Música, exige a procura de uma composição brasileira, de uma Música brasileira erudita de raízes populares, de um “som” brasileiro, num conjunto de câmera apto à tocar a Música européia (principalmente a mais antiga, tão importante para nos, brasileiros), mas também a expressar o que a Cultura brasileira tem de extra-europeu.

Assim, estamos conscientes de que a Arte Armorial, partindo das raízes populares da nossa Cultura, não pode nem deve se limitar à repetí-las; tem de recriá-las c transformá-las. Por outro lado, temos consciência de que, se conseguirmos expressar o que é nosso com a qualidade artística necessária, estaremos seguindo o único caminho capaz de levar á verdadeira Arte universal, – aquela que, partindo do nacional, se universaliza pela boa qualidade.


Ariano Suassuna"


Músicas:

1 - Abertura (Cussy de Almeida)
2 - Galope (Guerra Peixe)
3 - Ciranda armorial (Jose Tavares de Amorim)
4 - Nordestinados (Cussy de Almeida)
5 - Repentes (Antonio Jose Madureira)
6 - Terno de pífanos (Clóvis Pereira)
7 - Aboio (Cussy de Almeida)
8 - Mourão (Guerra Peixe)
9 - Pífanos em dobrado (Jose Tavares Amorim)
10 - Sem lei nem rei - 1º. Movimento (Capiba)
11 - Kyrie (Cussy de Almeida)
12 - Abertura (Cussy de Ameida)

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